Esportes

Pedalando em Montes Claros

Evento para estimular a prática do ciclismo entre as mulheres, IV Garotas da Bike ocorreu dia 18 de setembro e movimentou Montes Claros

Os grupos de pedal geram um interesse natural pela bicicleta, sendo uma das formas mais efetivas de incentivo ao pedal. Ainda mais especial quando se trata de um grupo apenas feminino, como lembra a educador física e bombeira militar Simone Pereira Reis. “Muitas mulheres têm uma jornada diária atribuída de várias tarefas. São mães, donas de casa e ainda trabalham fora, então, não sobra tempo para praticar esportes. Seria bom se mais grupos específicos para mulheres fossem criados, assim como projetos, passeios e campanhas de conscientização”.
Outro pedido delas é o incentivo por parte dos familiares e amigos. “Os homens que já pedalam deviam apoiar e incentivar as mulheres, compartilhando sua experiência no pedal”, diz a técnica em enfermagem Josiane Pereira dos Reis, irmã de Simone. A secretária Christiane Gonçalves foi uma das meninas conquistadas pelo grupo. Ela também cobra incentivo. “Nossa motivação seria ainda maior se o marido, namorado, amigos e familiares fossem juntos pedalar”, acredita.
Simone é adepta dos esportes desde criança. A bicicleta facilmente entrou em sua rotina. “Utilizava a bicicleta como meio de transporte e lazer. Comecei a pedalar mais durante a faculdade, a convite de colegas. Então, iniciei nas trilhas e já na primeira me apaixonei e não parei mais”, revela. Segundo Simone, o contato próximo à natureza, ter a companhia de outras pessoas e o fato de estar em movimento a faz sentir mais viva. “Nesse momento, damos mais valor a coisas que realmente importam, como nossa espiritualidade, nossa família, saúde e amigos. Essa foi a motivação para que eu sempre pedalasse”, diz.
Sempre na bicicleta, logo Simone virou referência para pessoas do seu convívio, como Josiane. “”Eu não gostava de pedalar e falava para a Simone como ela tinha coragem de acordar cedo só para andar de bike, pegar sol e chegar em casa morta de cansada. Isso até eu fazer minha primeira trilha e ver que meus limites foram superados. Foi muito gratificante completar 40 km”, lembra. A inspiração para Josiane experimentar a bicicleta, claro, veio da irmã. “Minha maior inspiração foi ver a Simone participar de uma corrida de MTB sozinha, competindo no meio dos homens. Agora fazemos muitas trilhas juntas, treinamos, competimos e nos ajudamos. Hoje, a bicicleta faz parte da minha vida. Ela é minha fiel companheira. Quero envelhecer pedalando”, fala Josiane.
Grupos femininos - Além da família Reis, muitas outras meninas estão pedalando em Montes Claros e em toda a região norte de Minas Gerais. A educadora física Maria Tereza Guimarães Teixeira, por exemplo, diz que os esportes de aventura sempre despertaram sua curiosidade e desejo por praticá-los. “Logo o mountain bike começou a despontar em nossa região como um esporte cada vez mais praticado e vi muitos amigos e amigas pedalando, conhecendo lugares maravilhosos em passeios ciclísticos. Isso me estimulou a adquirir uma bike e também praticar MTB. A bicicleta passou a representar bem-estar, vida saudável e liberdade”, comenta Maria Tereza.
Passeios urbanos ou em trilhas são cada vez mais frequentes nos finais de semana e feriados. Dentre os vários grupos de pedal existentes na região, Simone, Josiane e Maria Tereza participam do Grupo Feminino Garotas de Bike. Mas elas promovem a integração com grupos de pedal feminino das cidades vizinhas, como o Vibe Pedal, de Januária, Bike Girls, de Salinas e MTBPira, de Pirapora.
Quando há o apoio do companheiro, a mulher se sente mais confiante para subir na bicicleta e desfrutar dos seus benefícios. Foi o que aconteceu com a atendente de telemarketing Danieli da Silva Meira. “Minha motivação para pedalar veio do meu noivo, que está sempre me incentivando. Nós nos divertimos muito e isso também ajuda na nossa saúde”, diz. Mas ela relembra outro ponto que deveria melhorar para que mais mulheres optem pela bicicleta: “precisamos de mais segurança nas ciclovias e bicicletas e equipamentos mais baratos”, cobra. Maria Tereza também considera que o governo deveria incentivar e divulgar mais o uso da bicicleta: “além de infraestrutura, os órgãos públicos poderiam promover mais eventos que destaquem a prática do ciclismo, seja como esporte ou como forma de buscar melhor qualidade de vida e saúde”.

Interatividade e qualidade de vida


- Christiane Gonçalves foi uma das meninas conquistadas pelo grupo. “Ouvia pessoas falarem da pedalada com grande entusiasmo e isto foi me contagiando. Quando vi, estava lá”, conta ela. “O grupo é como uma família. Ninguém está ali por uma competição, mas sim pelo objetivo de curtir uma boa pedalada e os lugares visitados. A bicicleta é saúde, representa uma vida melhor, com boa forma e menos estresse. O mais legal é o entrosamento que ela permite com pessoas de vários tipos, ideias e experiências de vida que eu nunca mais esquecerei. Acredito que chegarei aos 60 anos pedalando com essa turma, que é pura animação”, projeta.
Maria Tereza também comemora esse entrosamento. “O grupo ajudou a me manter no pedal, a começar pelo simples fato de ser composto por mulheres muito dispostas e determinadas a pedalar, promovendo passeios diferentes a lugares incríveis. Dessa forma, a amizade construída entre as integrantes nos faz querer estar sempre juntas no pedal”, diz.
Despertar para a bicicleta traz as meninas para o pedal não só em busca de diversão. Simone conta: “muitas começam a utilizar a bicicleta como forma de lazer e acabam a utilizando também como meio de transporte. Um exemplo de estratégia de melhoria na mobilidade urbana é a adotada na cidade de Janaúba, que possui uma ciclovia separada por canteiro, o que impede os motoristas de estacionarem no local destinado aos ciclistas. Na cidade, a maioria dos trabalhadores utiliza a bicicleta para se deslocar ao trabalho, pois os comércios oferecem estacionamento próprio para as magrelas, e as ruas são planas e largas”. Jaqueline Affini, supervisora pedagógica, residente em Janaúba, é outro exemplo. Ela e seu marido, o empresário Bruno Affini Lefone, utilizam a bike no dia a dia. “A bicicleta representa sustentabilidade, liberdade e felicidade. É um meio de transporte econômico, saudável e sustentável. Representa a possibilidade de se locomover sem poluir o meio ambiente, tendo a liberdade de não ficar preso no trânsito e encontrando a felicidade nas coisas simples da vida”, diz Jaqueline.
Simone finaliza dizendo que o grupo torna as mulheres mais unidas e fortalecidas. “O mais importante é a oportunidade de conhecer pessoas, fazer parte de um grupo e a vontade de ver mais e mais mulheres pedalando também, pois quando nos sentimos bem fazendo algo, queremos que mais pessoas também experimentem a mesma sensação que nós. O fato de pedalarmos juntas permite dividirmos experiências, dificuldades e assuntos femininos. É um verdadeiro Clube da Luluzinha. Juntas, somos mais fortes. E, claro, sem nunca esquecer da bicicleta, que representa uma das minhas fontes de lazer, alegria, inspiração para a vida. É meu hobby favorito, um elo de ligação entre as pessoas. Ao mesmo tempo um veículo e um brinquedo, um equipamento e parte de mim”, revela.