Cultura

De “repente”, o cordel montes-clarense

Professor Carlos Azevedo se dedica a escrever cordel como forma de resgate da História escrita e oral do Norte de Minas

Apresentação de cordéis na comunidade de Espigão de Cima, município de Montes Claros
Por João Figueiredo

Professor de História, especializado em Cultura Afro-brasileira, o montes-clarense Carlos Renier Azevedo vem se aprimorando na escrita da literatura de cordel como forma de resgate da história do Norte de Minas. Começou há pouco mais de um ano: seus dois primeiros cordéis, “Vapor Benjamin Guimarães” e “Ouro Preto e o Conto do Vigário” foram escritos em maio de 2015. Depois deles vieram mais 17. 
Desde então viajou por várias cidades do Nordeste, São Paulo, Rio de Janeiro e Norte de Minas, participando de eventos culturais e divulgando o seu trabalho. É amante do “Repente” (modesta-mente se define como aprendiz de repentista) e de outras modalidades musicais nordetinas como “Martelo agalopado”, “Galope à beira do mar”, “Quadrão”, “Mourão” e “Oitavão rebatido”. 
O artista popular pratica repente nas modalidades regionais como “Calango de Montes Claros”, “Caninha Verde” e “Martelo mineiro”. Costuma cantar ou declamar seus cordéis em ritmos variados. É também contador de casos criados e recriados a partir de seus cordéis e de fatos reais.
Ganhou um prêmio pelo recorde de vendas de cordéis na cidade de Feira de Santana-Ba, onde recebeu uma estatueta produzida pelo artista plástico, alagoano (poeta, xilogravador, pintor, desenhista e escritor), Luiz Natividade, e foi homenageado pelo seu trabalho durante o Psiu Poético de Francisco Sá.. 
Azevedo trabalha numa dependência de sua casa, onde outrora fora uma lanchonete; é um cantinho exclusivo para a produção dos cordéis. Ele mantém contatos permanentes, através de redes sociais, com Oliver Brasil, de Feira de Santana (que ele diz ser seu mestre do cordel), com Ednaldo Santos, do Rio de janeiro, Dulce Esteves, de Recife-Pe, Silvano Lyra (seu professor de repente), de Olinda-Pe (atualmente nos EUA) e outros, que o ajudam no aprimoramento da sua arte. 
Carlos Azevedo vem de uma família ligada ao mundo artístico - repentistas, poetas, trovadores, pintores, etc. Destaques para seu pai, Antônio Augusto Azevedo, já falecido, que era músico, poeta e compositor, militar integrante da Banda de Música do 10º Batalhão da Polícia Militar em Montes Claros; e para seu tio, o poeta, compositor, cantor, escritor, cordelista e repentista, Theo Azevedo, natural de Alto Belo, município de Bocaiuva.
“Meu trabalho é resgatar e preservar a história do Norte de Minas através do cordel”, declara. Escreve seus cordéis da forma tradicional, observando rigorosamente a rima e a métrica em estrofes de 6 versos (sextilha) e versos de 10 sílabas poéticas (decassílabos); costuma escrever também “Glosas”, versos com motes que se repetem no final de cada estrofe, sobre temas que envolvem questões comporta-mentais e fatos da História Universal, às vezes com uma leve pitada de humor.
Seus projetos futuros são criar um jornal, uma emissora de rádio e televisão, todos online, para divulgação da cultura nordestina e preservação da literatura de cordel e da poesia, especial-mente a poesia de redondilha. Pretende também publicar uma coletânea de seus cordéis em forma de livro.